sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Consumação

Em cada boca
a seiva do meu paladar
e quando espadas
saltarem do seu olhar
(em busca)
atravessando um outro
serão meus órgãos
todos
consumidos num
sopro
pulsando sanguíneos
nas vagas unânimes
de suas veias finas.
Por que não há espaço na noite
onde eu desenho
este vazio.
Por que dentro é você
e o calor do frio.

Shala Andirá

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

No início era o Caos

é hora de dar algum contorno.
qual a relevancia do óbvio
se entorno:
a presença é
constância de bem querer:
solo?
e talvez
seja sempre
e só
isto:
uma matriz (transparente)
de equívocos
para quem
não é da vida: esquivo.
vai anjo meu
e se ficar
diga aos Santos
que o fogo pertence
a quem de direito o elegeu
a título de versos:
a Prometeu.
vaidade é invólucro de fita
se dentro dobro
acredita: coração é seda
que resguarda vida.
fibra diluída em delírio
do que existe
por apenas
um fio.

a lágrima azul da pele
escreve
suor de neve: ferve
que seja apenas um
até breve!


Shala Andirá


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Inverno.

Eu me confundo em doses de ontens nas vozes de um diálogo mudo. Eu me satirizo no momento em que te preciso. Lascivo imprevisto do qual eu me visto. Tu estimas-me presa a estigmas, enquanto duvidas entre guias e figas de uma cadência tesa: o amor sobre a mesa. Passeias com o punhal por sobre a pele indefesa e afundas no profundo dos órgãos, mundos mais mudos inóspitos. Eu ilesa, fiz da dor íntima prisioneira, e este sopro que se segue a cada batida surda do osso mais esterno, é a saudade que conservo, o mais frio e caro inverno.

Shala Andirá

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O Império dos tempos

Acaricio teus dragões com a língua múltipla das compreensões. Acesa como as incertezas nesta Babel de todas as naturezas. Clara como segredo escrito por sobre a água rutila. Retina do Sol na noite da tua pupila. Serei luz ainda que o dia se apague e a madrugada não amanheça. Solo, colo ou rastro de purpurina. Espelho leal que cintila ainda que tu não me reconheças. Não há de nós o que o tempo dos tempos esqueça.
Shala Andirá

Parto

te amo minúscula. entre a língua e o assoalho. como saliva e agasalho.
sempre pronta para ser amparo e parto. sempre pronta para arrumar a cama e revirar o quarto.


Imagens são só imagens
meu corpo pede passagem


Shala Andirá

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Estertor

Meu som sibila pelo solo do seu corpo. Escorre solto: bailarina líquida dançando ao vento revolto: amor caligrafando sopro.

Shala Andirá

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cientificismo no espelho _ O corpo no avesso

Ela fez a curva em torno dos 7 horizontes
em busca de
alguma ciência que a livrasse da tetraplegia
implícita nos mergulhos rasos depois de
explodir o fígado e o baço
entubando a liquidez do mundo pós- moderno.
Resolveu algumas incursões ao inferno
e viu Rimbaud negociando cadernos em troca de
míseros tumores
(talvez fossem apenas rumores).
Do céu, ela já sabia nascia a
necessidade da perfeita hipocrisia.
Onde vamos parar com tantas pústulas
nascidas do luar e mariposas povoando o altar.
Sagrada em sua cama
ela dormiu para nunca mais
acordar. Do rasgo no punho entrou estranha e sólida
em suas veias finas
ficou azul, estacionando o líquido
e o paladar.


Shala Andirá

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Do céu azul- Vista do asfalto.

Vindas do asfalto: notícias do Anjo Azul Cobalto: sob a inscrição da lápide sou mais
aproximada do espírito. na casca tudo se estranha
um pouco, digo na dose
de açúcar do jogo (a crueldade
é a face sublime
das asas da aurora do
seu ato: crime!). O tabuleiro físico reprime. não há nomes
catástrofes ou alucinação apocalípticas na anunciação das vítimas.
rimas limítrofes bóiam na ausência peculiar de estigmas. personas
confusas sobrevivem à própria hipocrisia nas esquinas dos paradigmas: um desfile de máscaras
concisas. à margem de qualquer paisagem
que exprima: metafísica. nada muda os órgãos de lugar.
tudo está
quieto aonde está. no desperdício dos terrenos
alagados: vomitando vidas sobre o pano de chão
de preceitos maniqueístas: gafanhotos
enxuga charcos ativistas espalhados por metro quadrado,
na anfetamina pulsante dos trópicos. enquanto no ápice
de cada ângulo um crânio de urânio
enriquecido de um milhão de prismas em colisão
aguarda: o trismo da visão: o cérebro caleisdoscópico gira:
na revelação da voz dos suicidas:
na consumação das vísceras: a colheita do núcleo humano na forma
elíptica do cataclisma.
(este carrega uma infinidade de mundos e submundos
1000 sóis explodindo muros, dízima periódica expandindo o escuro_
eu lhe daria mais um, se o tivesse, escondido sob os lençóis.
mas sou ausência: matéria prima. Só).
cato cavalos marinhos no mato para navegar céus de prata
escorrendo o canto verde das cigarras na relva colorida
de trapos e farpas. moro um pouco no silêncio azul dos abraços.
morro um pouco. depois passo. sigo o caminho vermelho do hálito
até a carne para transformar o beijo em baile. O balé: éter intrínseco,
corpo líquido do vicio, danço bem e pouco, em Braile tudo compilca –se
na rosa do sexo.
afinal é ou não é daí que nasce o coração: vento do plexo.
parece que domei o vício de catar obsessões: estalando nuvens
de tangerina literária entre os lábios e a linha melódica da navalha. há um texto
em branco enquanto nos cuspimos. enquanto
excessos exacerbam limbos
vomitando pardais e tico-ticos. há um tempo enquanto nos cumprimos
em terapias grupais. há um texto que corre atrás
da sombra das sobras humanas além dos poços virtuais. a vida se esvai
pelo ralo do computador ao lado.
vaidades degoladas duelam, por sobre cabeças, em busca
de uma fala. e o silêncio fica, excluído na vala. há um teto raso
onde afundo se afago.
por que há sempre um tempo abaixo onde contida em si.
num monólogo apertado. oxigenando o coração. sobrevive a solidão.
e lá se foi o monstro do café. lá se foram as heroínas e as vacinas.
minhas unhas se descascam na clareza do que embarga e desafina. filtros entupidos de larvas e estátuas de parafina.
confino-me embarcada no rastro. You might see me somewhere
between the rain. debaixo da língua caminhando imóvel
sobre os escombros da ponte de estantes, entre a cama e o assoalho. No mínimo,
no minúsculo ciclo do músculo entre o nada e o vazio do pulso.
_Aqui, terra de ventre renegado pelos filhos do legado, já não há domínios, há demônios domados na jaula dos olhos sem brilho: burocratas
batendo cartão e as teclas da lâmina banhadas de intenções e egoísmo_
um rastro de sangue estanque seca coagulando a velocidade do precipício.
_ Escorro meu vestido invisível sobre a ponta íngrime da sapatilha,
360 graus por sobre os edifícios e o lixo. por detrás das asas avisto nascendo, o céu sangue
deste imenso hospício.

Prefiro morrer atrás do depósito químico.

Shala Andirá



domingo, 28 de novembro de 2010

A Flor do Silêncio


A folha em branco. A
pele. O flanco. A tela o banco.
O som do espanto. Um canto
de solitários encantos
descascados.

Brandos finais.

Mortes agudas. Mudas que
se nascem. Escutas?
Silêncio de folhas
maduras e secas.
Nesgas de pele despida.
Vida.
Limite oco
fértil kaiçara do ovo.
A casca friável do sol
partido renasce cuspida
a fome que nos come o
sentido. Umbigo desnutrido. E fico.

Infinito excesso expelido
em camadas largas.
A lucidez dos degraus
da escada.
Larvas extintas fecundadas.
Flor que por
fim se despetala.
Adubo da fala. Cor da
dor inequívoca.
Limítrofe carnívora
do sopro extinto
de pudor.
Aura lançada,
externa, a estúpida
calçada onde
ficou prisioneiro
o Amor.

Shala Andirá

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

figurante clandestina da língua _ A Dor Aguda de um Universo Partido

o manto gelado do ar envolve
a ausência de movimento
as lágrimas do caos são de vidro incidental
meu corpo revestido de couro curtido

abrigo
aguarda poder sair
(extremada Senhora a tal
arte
existe no invisível imprevisível
de toda parte)
mas onde havia de chegar a minha dor.
eis a bela!
e o sono
e a treva
e o vasto
sobre seu humano reinado
as coisas andam passando por mim
e meu baço lento
hemorrágico
como o vento e o passo
que não traço no chão
sagro pegadas incrustadas no vão
as coisas andam passando por mim
meu osso de vidro e aço
como as lágrimas que sequei
no gosto do inaudito
silêncio preciso da pálpebra
de um sorriso
insolúvel
que desembarca no cais do mundo
" traço de um quase" que não sei.
a cidade flutua
e o mar
parado divide ruas como vestígios
eróticos
visgos de memória
no bronze
da história.
no exílio escrito o ritual
do instante clandestino
seu olhar mergulhado para dentro de si
como o impossível de abrir
figurante de si mesma
dentro do texto
sem concessões
atriz principal ( por detrás das cortinas)
atriz principal de incessantes masturbações
femininas
fiel a si mesma.
escrevo o que ela tenta entender
e me morro
num verso de açúcar e sal
"on the edge"
lobotomia existencial
desta neurose urbana
" on the edge: alternative futures. on the edge"
eu leio o verbo que corta hemisférios
cerebrais " searching"
espreguiçando neurônios e terminações
nervosas
morrendo a paz "I search"
quero abraçar a tristeza existencial
e dormir no limbo das alusões
literárias
derretendo ídolos de cera
estranha de mim mesma
e não há saída
desta pele que a poesia não expele
na tentativa de espremer o caldo
entre o cérebro e a carne
e a língua que não me traduz ou acompanha
"always on the edge" à margem do toque
"always on the edge" na borda de uma xícara
de chá, no sal
do meu drink, na ponta
dos pés " on the edge
of my sharpened pencil" na ponta
da minha caneta preta,
na plataforma úmida dos cílios no suicídio
das lágrimas
na ponta do meu cigarro no trago de
heróis em quadrinho ao alcance dos mitos
nos jardins de pedra e o corpo
se estica
do outro lado da praça,
tocando meu transe, um cristo
convida ao sexo
e atravessa a poesia
(nesta guerra semiológica rasa
eu me sinto uma rasura semântica)
não sou filha do vento
não me sustento
não me encontro na coerência
o desejo e a conivência
do silêncio crescem o ouvido
de tudo que não digo do impreciso
listo
dos abismos que me cercam
(e se a linguagem voasse à mesma velocidade teria
chegado mais perto)
hoje eu não dormirei
a faca escava a ausência e corta o céu
na polidez da tua demência semiótica
eu sou da lua pálida
esta deusa fálica
enquanto você finge
regar flores sem abrigo
e escreve gemidos
lambe tua língua
enquanto tu te vingas
de mim não terás o gosto
nem o veneno da tinta
te estanca no teu céu sutil anil
teu céu linguístico
que não me surgiu.


Shala Andirá

sábado, 13 de novembro de 2010

O paralelismo do pensamento e o vento_ Dói-me a cabeça e o fundo dos olhos

Ela partiu a cabeça ao meio na intenção do recheio e na construção de flores deu de cara com o objeto, um pequeno furo discreto por onde desabava inteiro o paralelismo dos seus universos. Internos. A esquizofrenia chegou mansa, pôs na cabeça a flor cinzenta e como uma criança que dança seu ritmo desconstruiu precipícios entrelaçando as linhas vermelhas verdes e amarelas das virtudes e dos vícios. O pensamento era o resquício de tudo que não tem fim simplesmente por que não tem início. Existe, na plenitude do risco de caminhar sobre a corda bamba do olhar
(até onde o olho pensa que aguenta enxergar).

Shala Andirá

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Para Ferreira Gullar e Paulo Leminski _ Do Seu Corpo de Nuvem

Era preciso falar poesia
ao abrigo da luz
(do dia)
em minha casa
varrida
( seu corpo
de nuvem)
o poema sujo inundava
o corredor de palavras
minha mãe sentada a beira do Rio
dizia:
anjo sente muito frio
mas não reza pelo estio.



Shala Andirá

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Meu amor eu juro

E o homem continua então morrendo na véspera do amor. Mas morrerei infinitas vezes até que o amor seja colhido verde pra madurar em minha saliva de sede. 

Shala Andirá

Ele veio faminto, nas pálpebras de um sorriso impreciso, em busca do vício.

extremo oposto.

Então era tarde. Nunca acendo as luzes da cozinha na madrugada, bebo água do filtro, e o líquido, no escuro, tem gosto firme de barro diluído. A percepção da cegueira é aguçada. Reafirmo meus pés sobre o chão da aurora no marulhar da enseada. Alguma coisa me segura. Ana Cristina dorme ao meu lado e se dedica. Na cama o braço se enlaça ao oposto, como uma velha algema que me abraça ao som dos uivos das vidraças sem rosto e intensifica. O vento está a minha caça. Corro o risco. Quando não esperamos mais a realidade se antecipa. Seguro com cuidado materno sua sombra em minhas mãos. Costuro suas formas em mutação a meus pés, e danço.

Shala Andirá

Da solidão

Um espasmo busca no sono
o gosto de não dormir.
A coreografia dos versos
dá saudade da simplicidade
dos verbos. Já não sei amar
de terno. Já aprendi a chorar
baixinho o que antes soluçava
em busca de palavras. Esta noite
já não tenho aspas agasalhos
ou cedilhas
aprendi a chorar baixinho
enquanto escrevo a falta que
me trilha. Ilha.

Shala Andirá

domingo, 7 de novembro de 2010

À Ceia - "I have saved this afternoon for you"

eu queria conseguir parar
de escrever gotas do meu sangue no ar
mas o corte vem de dentro
onde a lâmina teima e tenta
esvair a eternidade do teu

resquicioso paladar
sempre adivinhei sombras, sobras
em minhas veias o sangue esfria
e deita
desejo teus lábios à ceia
fome noturna, a palavra
solta se desagrega, como um jogo

que deu velha
este gosto de não acontecer
esta sede de escorrer contida
de ser comida
estes nós de espera na barriga lisa
estranheza que em silêncio me grita:
fica.
nem sei se te reconheço ainda
nesta ausência que pela garganta
desliza
( o velho estranho ainda
me excita)
desisti de comer
vou mastigar Eliot e viver de brisa
enquanto em você, algo me eterniza.


Shala Andirá

Para Ana C. _ O que sai pela boca não é o verso ( é o que desconverso)_ o nascimento do hamster

Dos signos: sinto. Me reconheço na curvatura dos teus pequenos lábios. No perfil lábil. mordo as cordas vocais para travar o que sai ao avesso. escrevo. meu corpo coberto de gesso. o tato do livro e o cheiro. é sempre está calma o meu desespero. cheguei o nariz bem perto para respirar as prováveis rugas se estivesses aqui em contexto ("eu sou eu e minhas circunstâncias"). anarquia ironia e um algo doce nesta falta extrema de lugar ( que vicia) fazendo arqueologia das reentrâncias. sem a euforia da infância. queria te oferecer meus seios (pequenos e fartos como os teus), mas há sede ao invés de leite. leio de trás para frente. e ainda não sei se o mundo me aprende. 

Shala Andirá

O olho do olhar_ Desafio ao óbvio

Enxerga-se até onde o olho suporta o infinito extremo oposto dentro dos olhos do olhar. Talvez por isso o olho cego veja além do que é de visionar. Quantas portas surdas és capaz de abrir com as mãos do teu paladar? Quantos tatos tem a língua mãe do teu olhar antes do vento mudar tudo de lugar.

Shala Andirá

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um convite ao infinito: Mostra-me tua face

Ela costura fibras de noite
ao vestido
enquanto a morte
sussurra segredos
aos pés dos seus ouvidos


Ele, na janela, prega
seus dias
às luzes das velas
enquanto a vida finge
ser bela

(Diante da tela, os homens
morrem na véspera
do amor.
O corpo limitado, explode
de desejo ou definha de dor.
A Alma vai e volta
entre os delírios da febre e o
aconchego do torpor
entre o corredor da morte
e a vida confortável de um cobertor.)

O amor
vastidão perene, descansa
na ante véspera do
humano
aguarda o ser
profano que ouse
se crescer para além, muito
além da dor
inerente
ao seu tamanho
de gente.

A morte, é apenas um convite
à vida.
Sente.

Shala Andirá

Do discurso_ em busca do corpo

Sou eu e o discurso, o curso desta imensidão. Preciso falar, autofagiar a grafia que me definha inexprimível. Impalpável irreprimível, sou eu e o discurso seguindo o curso deste rio sem margem, sou eu e o discurso que atravessa a paisagem em busca do corpo que hora afunda hora nada hora flutua. Sou eu que escrevo nua, o que me despe.

Shala Andirá

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O caminho para casa

Profícuo é caminhar em direção ao teu olhar e entrar no inexprimível ser que de dentro me convida a amar. Prenúncio de invasão é oferenda até que a entrega nos renda.
O resto, é lenda!

Shala Andirá

CorpoXAlma doente: Diálogo: Apenas cigarros explosivos _O grandíssissimo cataclisma da Deus Morta

Tu explicas e eu não caibo
amar é a única possibilidade real
de tocar o inexplicável.

Escrevo apenas por que a noite é azul e
chovem estrelas.
Escrevo por que não me cabe o desejo
de tê-las
ainda que tenha o dom de senti-las
escrevo por que sinto o gosto
dos sentidos além dos zumbidos ao

ouvi-las
ainda o tanto mais quanto mais
este silêncio me lança e exila.
A noite é azul e chovem estrelas
o vento há ou não de varrê-las
vai com Deus ou qualquer um
dos anjos que te prometeu o sul ao norte
eu escrevo por que não me cabe a morte.
É preciso começar do começo
para chegar ao avesso
o efêmero pode ser tão quente e eterno
quanto uma fração de segundos ternos
pode durar a intensidade de um inverno, o
tempo, é apenas um sopro, interno.
A expectativa pode ser tão cruel
quanto a bondade
parece contraditório para alguém com uma só face
cresça tuas verdades, e só aí, ouse
a eternidade.
O dano do não pode ser um caminho ao céu
da individuação
esta felicidade que entregas na palma
das minhas mãos (tábua de salvação)
sem lamento
devolvo teu coração
não carrego nada que pese
meu corpo flutua, a escolha é só
e só tua, me leve (ou não).
" Damaged people are dangerous,
cause they know they survive"
Eu sempre sobrevivo. "I'm alive"
breve como o líquido que me bebe
e o sólido que me consome
a aurora me devora e
a madrugada me deflora
ao amor eu me ofereço de graça
quando ergo em seu nome
a minha taça. É minha a escolha da faca.
Eu me entrego a morte, como quem casa.
Busca alguém que te caiba,
ainda que
no espelho não saibas,
teu tamanho te cabe
debaixo das minhas infinitas saias.
Eu sou sede e fome
sou ausência de nome
o efêmero me come eterno
enquanto anoiteço sol de inverno.
Este amor que você prega
é egoísmo, isso passa
amargo como o dia
seguinte a um porre de cachaça
ou esta tua vidinha embaçada atrás da vidraça.
Basta uma pedra e seu tudo se estilhaça. E eu
continuo, nada.
Teu amor é prato raso.
O meu alastro. Sangro o rastro.
Vazo.
Se ofereço lealdade é em nome da vastidão
que apenas trago: apenas cigarros


Shala Andirá

Tragar: 1 Beber; engolir de um trago 2 Devorar avidamente, engolir sem mastigar 3 Engolir a fumaça do cigarro, e em seguida fazê-la sair, a maior parte, pelas fossas nasais, e o restante pela boca. 4 Fazer desaparecer; absorver, sorver: 5 Aspirar, impregnar-se de 6 Aniquilar, destruir 7 Sofrer, suportar, tolerar sem reagir 8 Devorar com os olhos, olhar com avidez 9 Acreditar.



terça-feira, 2 de novembro de 2010

A morte só varre o que nunca existiu. O infinito é uma escolha que mora na memória da carne, ainda que o verbo desencarne e finja que partiu.


Shala Andirá

Sentimentos vastos

Nos pastos ágeis
dos sentimentos vastos
só há lugar para cavalos
selvagens.
Eu resgato saudades
apontando
o grafite da carne.
Desenho verbos pervertidos
contraio a paz dos sentidos.
Costuro a casa dos teus ossos
aos meus ócios e óbitos
construo destroços
em vosso trono, te faço
meu dono.
Te espero mansa, até que
este cheiro na garganta
te alcança e
tua cela em pelo
me revela.
Entrego-me pura
minha fúria
às gotas de cura
quando de nós se mistura
aço poesia e textura.
Construções são retratos da mente e
assim como
mitos não conduzem ao coração,
estribos são fidelidade à ilusão.
Entrego-me a ti
de dentro
às paisagens involuntárias
onde o sangue se ferve
sem cuidados ou tormentos
até que o olho não suporte mais visão
e a alma galope ao
ponto de fusão do que pulsa
sem definição.


Shala Andirá






Madurando manhãs

Esticada ao sol
a pele rompe:
vagem virgem

(esfinge de fogo
ao jogo cinge)

Se podes ser pensamentos
acena com a lava do vento

O ciúme é fibra amargurada
(algema de gelo)
mais nada

Morte prateada da madrugada
o amor é carne salgada

Morre-se de sede
madurando manhãs
no calor úmido das brasas

Vive-se da fome
madurando pequenas mortes
mastigadas.


Shala Andirá

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Do vazio

Então era isso. _ Dormi com aquela vontade insustentável de ser precipício e abrigo. E era o lençol fechando as pálpebras do corpo. Revelada na câmara escura do teu olho que me sumia no colo da noite._ Ela era ele, ele o vazio.

Shala Andirá

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Do Êxtase

Mas havia ainda um último cálice a me banhar. _Seu sangue escorrido na carne do mangue. Um corpo estanque e as gotas negras despertam do olho o luar. _É cheia a noite. E eu, está falta de lugar que desenhas no teu colo, para te embalar.

Shala Andirá

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Why don't you leave


Cansada da lucidez dos poros, da embriaguez pulsante no óbvio das entrelinhas e do excesso de espaço, ela bebeu devagarinho os estilhaços de sua pele.
Debaixo da pele, o corpo.
Íntimo.
“The noise remains” mas o frasquinho de solidão restringe e permanence.
Silêncio.
Pintor de santos e alcovas, o homem com a câmera na mão em busca do anjo negro no imprevisível de seus medos. “The search is to look what isn’t to be found”. O íntimo é só o que permanence.
Segredo.
Na iminência de ser revelado.
Sagrado.

Shala Andirá

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Do Escuro

Minhas palavras são de areia, há uma vácuo em minhas veias, escorri centelhas pelos punhos, e foi num segundo, a vida me esvaiu de tudo. Hoje sou nada , este mar de sal e água nada, no escuro.

Shala Andirá

domingo, 17 de outubro de 2010

Dos anjos

Será da natureza do anjo
ao contrário do que dizem os mais
incrédulos e insensíveis humanos
andar sobre duas pernas
e plantar palavras ternas
sobre a face tenra
da terra.

Shala Andirá

Da bandeja do coração

Do outro lado do muro
onde moram os sonhos
no brilho escuro do ouro insone
quem sabe
agente em si se encontre

Não espero companhia
mas se te sentares

à mesa

das minhas incertezas
onde são servidas as últimas gotas
da palavra
paixão à sobremesa
a vela da saudade
será toda minha e tua
na bandeja
do coração.


Shala Andirá






Life is a punchline! Laugh at it!

Shala Andirá

Do talvez

Os dentes da palavra em riste
O desejo lateja e se
cumprido nos desiste (?)

Abaixo do profundo
mora o fim (?)

do mundo (?)

Na sanidade ou na estupidez
Melhor mesmo seja a falta
de razão
que existe na realidade

única

do talvez.


Shala Andirá

Do espírito absoluto da mulher - Fecundando Pássaros

No alto
do mais alto
ramo
acima da
escada
de espinhos

fecundando pássaros
ela orvalha o luto
das rosas
além do último
passo.

Esquecida
do alcance
das mãos
deslumbra a lua
provocando marés.

A migração de
pássaros grávidos
leva aos homens
de coragem
a coragem de sua fé.


Shala Andirá

O corpo

Há uma taça

Um tinto
preenche o lado
o lábio
e dentro
este silêncio
frágil

Meu copo denso
meu corpo
intenso

e
lábil

Inteiro
interno
terno
como o Sereno
o verso
e o inverno

É que eu Orvalho
do olho e me
espalho, mas
aqui não há folhas
de dormideiras
desejando
despertar
há bolhas
e encolhas
neste lugar

Preciso da tua
beira
cachoeira
para mesa de
cebeceira
ainda que chova
e eu
me escorra
e morra
sem nunca te tocar.

Shala Andirá

sábado, 16 de outubro de 2010

Do intelecto: regiões do Sentir

Eu não tenho a
eloquência
do verbo,
este terno,
eu tenho o outono
o inverno
e o inferno ebulindo verões
primaveras e este céu eterno,
todos emigrando:
do peito
para os cadernos.

Nota de rodapé: Outono e inverno são estações perpétuas
nas regiões de peito aberto.


Shala Andirá

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Do Poeta

Eu hoje sou esta multidão vagando para nenhum lugar, sou esta massa disforme sem espelho que me contorne sou ausência de estar. Eu hoje sou esta pele fora de hora, sou esta carne flora. Se ao menos eu fosse poeta, haveria o reconhecimento de um olhar, mas hoje, hoje eu sou esta que suspira sussurrando urros apenas para não sufocar.

Shala Andirá

Da Intimidade

Do íntimo
silencio ecos
sou sua
estranha,
esta mansidão que arranha.
Não me acolha
escolha com seus dedos
lentos dedilhar
meus ventos,
sentimentos
são movimentos breves,
não se encolha
escolha com seus olhos
atrevidos perturbar
os meus sentidos
confundir os meus ouvidos
com quase sorrisos.
Sou estranha
não me privo de
não fazer sentido.

Shala Andirá

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

No templo das sementes

Quando o mundo
acorda o meu desacordo
corda amarrada
em torno do poço
manilhado
do meu pescoço

Chaminé apertada
para o grosso
fosso
onde planto
estrelas
abaixo
do esboço

Há água potável
no fundo do osso

No céu azul corre
um rio de sol
Um raio insolente
brinca
no lençol

E eu que
fechei
cortinas
para esquecer
a cor invasiva
dos dias

Hoje sinto o
frio ardil
nas gentes
prisioneiras
das ruínas
da mente

Quantos séculos
dura um segundo
no templo
das sementes

A Guerra
dos veios da
terra
no silêncio
metálico da
cratera
invade as
mandíbulas
das minas
do sul

Nas quinas
da noite
a fragilidade da
rima
no fundo da
gruta escura
ou seiscentos
metros
acima

Nos quintais da
morte a foice
soterrada ao norte
calou-se no
Atacama
diante da vontade
da vida
que brinda
insana

Está noite
cavalgo uma
legião de leões
em chama
a multidão
amarela
dos mares acima
da janela
inflama

Meu coração
estrela solar
rutila por toda
a cama
A esperança
brota
flor humana.

Shala Andirá

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Para Vladimir Maiakoviski IV: Sob os calcanhares da tua dança

Confesso que me consumo
no vício de criar galinhas
nas entrelinhas

e vem você
com a via láctea inteira e
suas estrelas
e vem você com esta vontade
incessante em remetê-las

e vem você com o céu
repleto e o peito
incompleto:

Uma pancadaria azul

Espancamento a céu aberto
do teu sol
na plenitude do meu pálido
deserto

de certo
restarei carcaça:
bico, unhas e fumaça

penas esvoaçadas
na sirene dos séculos
de tuas inauditas palavras

lábios e vidraças
onde a boca da poesia
alcança

e me lança

sob os calcanhares
da tua dança.

Shala Andirá

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Para Vladimir Maiakóviski III - Da flor amarela

Ando
discreta
ao que me
excreta

Devoluta
greta

Creta
secreta

Grava
ereta
do
broche
solar
que me
espeta

e prega.

Shala Andirá




Para Vladimir Maiakóviski II- Um Sonho Inciso

Caem por nós
os úmidos lençóis
das noites de outubro

Me cubro

Deitada na cova
nua do teu queixo
me deixo
me descubro

pêssego de carne
madura
sumo escorrido
no vinco
do teu sorriso

fúlgido

visco de um sonho
impreciso
luz confusa
onde fui
indecente dissoluta
indefesa fruta

presa
na fratura tesa
do dente
inciso

Súbita.




Shala Andirá

domingo, 10 de outubro de 2010

Para Vladimir Maiakóvski I - A memória do céu azul: hóstia de sol na poética escarlate do meu lençol.

A névoa de outubro
divulsiona o escuro
em busca,
o que se perdeu
entre tu e eu
na fenda
refuta

Seiva bruta

Meu corpo chove azul
esta ousadia leoparda,
meio mulher meio puta
meio sinuosa pauta
provocando o
rutilo íngreme
de tua espada reclusa

Lauta luta

Dos músculos
másculos de teu
rosto mastigado
ao monte farto
da sobrancelha
em seu preciso arco
me atiro
ao nada
enquanto a inteligível
cigarrilha
me traga
no timbre grave
dos braços
de tua gravata

No entrave agudo
dos verbos
arrumando livros
eruditos
entre ternos
diante da ignorância
geográfica, seus
nervos de ferro e
o inverno do sexo,
luva uterina
tateada no intelecto
sensível dos meus
cadernos

Coágulo inscrito
do beijo cego
que dos lábios ao olho
escapa, escarpa,
ecos de fumaça
de encontro a pupila dilatada
da tua vidraça,
memória do céu
nublado
que me tapa e os
fios de sol costurando
a pele como
farpas
de flores amarelas,
trelas
na pequenez
da janela
de tua cela

Goela
(chaminé de minha
matemática vela)

Fumo
para marcar a dissidência
do meu suor
despida
na solubilidade efêmera
da fumaça cerebral
que te cerca
com requintes.
Bebo
para explicitar
o éter
(amor volátil)
no hálito, vértice
do meu peito
hexágono,
dízima periódica
de sexo
num sem fim
de favos em brinde.

E eu ainda me atreveria
estrangulada, medula
de tua flauta,
se você subisse
espremendo o vinco
do teu vínculo
de encontro à grade,
perturbaria o universo
confundindo a neblina
explícita
com o vapor de licor
alcoólico do
fumo espesso
que me assina:
escarlate assassina

Vício e
Víscera

Trincheiras de poeira
invadindo
frinchas com
coisas que já desejei
como minhas,
noites de atonia e a
agonia dos dias,
escorrendo nos
dentes da eucaristia

Nas partes do teu corpo
que se confundem com o
mofo,
o desejo confuso
me estofa de treva
enquanto derreto,
hóstia solar
na relva quente
da tua barba
serrada
mordendo a trava do
ângulo obtuso
que te reza
e apressa
o sangue escuso

Lâmina atraída
pelo brilho sanguíneo
abuso
do teu queixo
meu uso e
caem por nós
os úmidos lençóis
das noites de outubro.


Shala Andirá



A Flauta Vértebra

A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,

veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.

Vladimir Maiakóviski (tradução: Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman)








Um único trago

Te acalma na senda
assenta.

O sublime não oferta
nem ofende.

O infinito é lenda,
se acaba além do nada
se inicia ao que acende

Atente:

o Amor,
éter valente,
volatiliza o que apreende e
se te aprende

Bravo!

É este o único trago
a que tens direito
sem estrago
incessantemente.


Shala Andirá

sábado, 9 de outubro de 2010

Dos Gigantes


Então era o barro
o escarro do velho
Anjo

Colisão de fonemas acres
impelidos no massacre
da treva espessa

Esta sabida dor de cabeça
Luz à fronte
que padeça

Acorde antes que o gigante adormeça
o sangue submerso

tu te cresces a cada verso

Ecoa intenso interno
teu implosivo inverso
pluriverso

Da prostituição do ser
cresce avesso
o teu verbo

Caveira do ego
estalada à prego.

Shala Andirá

domingo, 3 de outubro de 2010

Casa de Louças

Acordei com o caminho das garras
na porcelana ainda pastosa do pescoço.
Vi através do espelho as noites
escritas na órbita
do meu olho. Silêncios que escolho
adotando vertigens inexprimíveis.
Solo da imensidão
onde o mundo só existe neste
centímetro entre a língua
e a violação,
solto na vermelhidão, no porte
do ventre.
Acostumada a excessos,
nada é suficiente ou sobra,
os trajetos da boca
rasgando lábios ampliam
a lascívia da gula,
gritos de avesso arrebatado
costuram dúbio e sinuoso
o músculo viscoso da língua
com poros de agulha.
Pétala fagulha na forja dos olhos
formigando venenos de taturana
mãos de coragem avançam poros
dedos sugados
pela clandestinidade afiada
das próprias arestas
inauguram cheiros pólens especiarias
e o néctar da frestas
dobras e raspas
de canelas entrelaçadas no aço
incandescente das panelas. Rangendo
goelas, soerguida em tua sela
bocas e dentes e a virulência canibal
batendo janelas. O dedo em anzol
passeia em busca
do líquido em festa,
repousando ondulações mamíferas
na polpa linguística, fisga
o assoalho da boca
trazendo a ponta da outra
lígula ao fundo
do ouvido para tocar
de leve o cérebro cinza
que fervido num zumbido se vinga
escorrendo tintas.
Patas descascam peles
derretendo maquiagens internas o
sangue crescente
do termômetro molda o vidro
e a chama triangular esculpida
no favo quente das velas
dos sentidos.
Súbitos sumos em sentinela e os
frutos amadurecem lentamente,
comem as derradeiras membranas florais
da primavera. O chão se rompe,
maxilar desabrochado no rasto
dos teus passos, como quem mastiga
carne tenra de longas esperas.
Coração marinado na saliva furtiva,
ração de gosto apurado,
grão de razão torneado no barro ágil
da sensualidade.
O vapor do raciocínio, neblina
desfalecida na agudeza do
espírito, artesão
ao avesso do ser que pensa
está inteligência de prensa no gozo,
demônio cúmplice urdido no ferrão do olho para
o uso completo do corpo.
A lógica dos cacos
a fusão complexa no calor da febre
a desnaturação das arrogâncias, rombo
que permite a penetração,
cuspindo cóleras e súplicas
em fuga espontânea
arremessando chinelos e
convenções dominicais
duvidando da autenticidade de qualquer
possibilidade genuína de paz.
As coleiras dos braços e pernas
fechadas em garras
engalfinhando óleos corporais essenciais
é sagacidade
fugaz,
confessa Mea culpa.
A ironia soberana vaza o
sarcasmo do riso
sobre a culpa.
Um risco na medula sagrando
a nuca ao pó
herético, lambendo-me os pés em batismo
lascivo e úmido
Visgo
autoritário estético submisso
e a astúcia do erro
atravessando a verdade
as varas da vontade
atravessando o desconhecido
a força pontiaguda
atravessando a pele fina da velocidade
a devassidão
atravessando o rastro
num andar lento fundo e sedento
interrompido
fluido fruido
até o descontrole despótico do ímpeto
convulso
na alavanca soberana do ópio
deslizando demônios e papoulas dos olhos
até que a vida ganhe outro peso
e se perca
(da denúncia repressiva da cerca
desfalecida sobre o farpado das
formigas)
na enxurada de cálculos
na fluidez dos algarismos encachoeirados
no mimetismo do espasmo agudo
sem caminho de volta, sem escolta
ligústro de minha alma
(sacerdotisa
do pé que me lambe
serva
da língua que me pisa)
na aceitação da amputação das pernas
e um instante branco varrendo o cérebro
à devastação.
Massas exauridas despojadas da sova
na cama da solidão,
cada um sobrevive
ao que acredita,
até que os números lancem nova corda
de equações
em torno dos músculos órfãos.
Nesta casa de louças,
dissimulando demolições,
eu acredito nas ausências
mascadas no isolamento da orfandade
reconstruindo a lucidez da alma
sem o disfarce do apetite.


Shala Andirá









quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eu quero puxar da língua a saliva que me vinga do oásis que o Deus pinta para que agente não sinta.

Shala Andirá

Black eyed bed

With blinded eyes into the wide
nigth
I'll follow you, my
black wind, my only tide.
Tie me to your bird's tears
before
I die.
Dive me eternal
death
trough the needles head
sew me
to your black eyed bed.

Shala Andirá

Uma Cusparada- Escorro águas Intranquilas num beijo de vinte mil línguas. - Para Calígula.

(é que o mundo é um cão arfante
repousado na língua de um elefante.)

Na língua desta imensidão oscilante e carnívora
que é o chão, a falta de são.
Respiro saliva chovida:
uma Cusparada de vida. Escorro
águas Intranquilas num beijo de
vinte mil línguas e
navegam salgadas
o mar que me destila
das línguas a pupila.Onde mora o transe
preciso
para morrer num sorriso.
Está vida presumida, resumida,
conforto e comida.
A sua vida. Sua. Vida.
Que piada!
O grão de areia tem potência mais
exata batendo a cabeça larga contra o crânio
dentinário e sólido da enseada.
Sua vida:
mosca
emboscada no melado:
sorridente lambuzada estancada
vinte e quatro horas antes
da eterna dentada.
Espremida massa opaca, gosma
contra a calçada das divinas arcadas. _
Fios perecíveis embolados nos dedos
do céu. O senhor das marionetes
comanda o espetáculo em três
atos:
este sopro. Este sopro. Este sopro
sustentado pelas mãos de Deus.
_Quem você pensa que é!_
Eu tenho um sol no estômago, me
entorno da língua em líquidos
filamentos filarmônicos quando
o isqueiro da aurora se altiva, tenho a lua
bailando vaga sob a ponta
dos meus pés, e esta febre na barriga,
tenho um fio
terra fincado no umbigo
atravessado, e no cérebro
este mar bramindo ressacas ondas e
rugidos bardos.
Eu tenho o silêncio humano
dos leopardos
ritos perdidos em precipícios de
carne e vício.
Eu tenho o silêncio dos gritos.
Não o silêncio dos meus
gritos, mas de todos,
de todos! Dos teus
dos meus dos outros. Deste tudo
na solidão amontoada
nos edifícios, eu tenho a arma e aperto
o gatilho. Sim!!
Eu tenho o orgasmo
do egoísmo!! Este estampido.
Meus ouvidos assassinam velhos juízos, não,
não há espaço para o tédio, não há espaço
para remédios não há espaço
para obséquios. Amordacei
a paciência com todo o pano
da lucidez. Aceno com lenços úmidos
de demência para a insensatez.
Tenho a dor do esquartejamento
da existência,
tenho a boca escancarada
a corda acariciando suas luvas em torno
do pescoço
tenho a sufocação do sexo e do verbo,
este aperto,
o perfume dos esgotos a céu
aberto e estes ratos
roendo-me os nervos ao teto, deserto.
O chão queima os pés
do que é certo, a certeza
é país não descoberto, a incerteza este perto.
Eu tenho a boca escancarada,
escorro legiões,
raízes salivares lançadas
árvore contrária das víceras.
Eu escorro o que me vinga deste céu,
imensa boca que pinga goteja brinca,
conta gotas de imanência
sobre dosséis e oferendas.
Dócil é o fóssil!
Terror espalhado do
ócio
roído
contrário ao seu teor anódino
submisso.
O Amor. O Amor este ópio adolescente
se apossando de vontades inteligentes.
Eu quero o beijo do ódio
dos sentidos furiosos.
_ Abraça o que sente! Abraça ser gente...
a cima de Deus, a cima dos seus, a cima
dos católicos dos judeus dos ateus,
acima
do suposto eu...
abraça o breu oposto
abraça esta falta de rosto
abraça o gosto nascente do desgosto
abraça o não
o são
o vão
o vazio
o frio
abraça
o rio caudaloso que te escorre
pela boca
pelo sexo
pelo plexo cospe para cima
pra ver se o Deus morre.
Abraça o porre
abrangente do complexo
colidindo forças
e duvida, duvida dos sorrisos
complacentes, dos julgamentos da mente, duvida
do erro, duvida do espelho. O céu
tão azul pode ser intenso vermelho
e se chover suor escorrido das veias
sobre teus ossos não duvida,
escorre
está cascata que te exila, tua língua
é a única capaz de lamber destroços suicidas
e recriar existir, a cima,
deste nada que é a vida.

Shala Andirá

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Da Árvore das Almas

Ao pé do pé de almas, raízes expostas e pomos apodrecidos sobre o martírio virgem das palmas douradas. Ao pé de si a feroz introversão de um galgo custoso, mofa a agulha do trem luminoso. A cabeça furada escuta o professor de melancolias na calçada: a felicidade é um baile de máscaras reafirmadas, costura-te a cara, mais nada. _ Eu danço a valsa do avesso, nos espelhos de Versailles me esqueço, uma legião de escadas degolando becos na velocidade das escolhas, colho os frutos do pé, na ponta ritmada das asas, não perco a poda nem a muda, da escuta aguçada sorvo o sumo do canto das almas em primeva revoada, então enlevo o corpo de dentro ao campo de batalha.

Shala Andirá

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

À luz das velas

Minha alma entre a pele nua da lua amarela e a carne narcísica mergulhada na água da tela, entre o corpo dentro do copo e o corpo sobre a mesa, reflexo espalmado: espalhada e acesa. Meio tesa meio presa.
Só há um lugar onde a Guerra é válida, na parede interna da vala. _ Onde ela bebia velas amarelas distante do centro da sala. _ A saudade, este céu vazado à vontade, olhos de noite sobre meus ombros insones. Meio seca meio fome. Meio fogo meio chuva. Meio serva meio imperatriz meio fico meio fuga. Meio fisgo meio uva. Meio águia. Meio água. Meio fio meio calçada. Meio nua meio blusa. Uma verve um tanto confusa: lágrima descascada da pálpebra virgem escancarada em cascata e os cães sedentos ladrando a úmida emboscada das madrugadas. Em brasa.


Shala Andirá



Aprendiz no espelho - Ao Jaguadarte

Espalhamento anfibiótico
Experivençal revelatório inventorial de nua Tântrica
(Defensiva às ofensas do insatisfatório)
Ante-solo de ireverências: Amnion!!!_ Semen!!!
(A sinkar-se ao bom e ao meu)
Liso cognocível pre-conceito " sem"


Era um peito acelerado num cem freio de caminhões... era só uma menina perdiz... engolindo corações pela boca faminta da cicatriz.

Shala Andirá