Então era tarde. Nunca acendo as luzes da cozinha na madrugada, bebo água do filtro, e o líquido, no escuro, tem gosto firme de barro diluído. A percepção da cegueira é aguçada. Reafirmo meus pés sobre o chão da aurora no marulhar da enseada. Alguma coisa me segura. Ana Cristina dorme ao meu lado e se dedica. Na cama o braço se enlaça ao oposto, como uma velha algema que me abraça ao som dos uivos das vidraças sem rosto e intensifica. O vento está a minha caça. Corro o risco. Quando não esperamos mais a realidade se antecipa. Seguro com cuidado materno sua sombra em minhas mãos. Costuro suas formas em mutação a meus pés, e danço.
Shala Andirá
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