quarta-feira, 17 de novembro de 2010

figurante clandestina da língua _ A Dor Aguda de um Universo Partido

o manto gelado do ar envolve
a ausência de movimento
as lágrimas do caos são de vidro incidental
meu corpo revestido de couro curtido

abrigo
aguarda poder sair
(extremada Senhora a tal
arte
existe no invisível imprevisível
de toda parte)
mas onde havia de chegar a minha dor.
eis a bela!
e o sono
e a treva
e o vasto
sobre seu humano reinado
as coisas andam passando por mim
e meu baço lento
hemorrágico
como o vento e o passo
que não traço no chão
sagro pegadas incrustadas no vão
as coisas andam passando por mim
meu osso de vidro e aço
como as lágrimas que sequei
no gosto do inaudito
silêncio preciso da pálpebra
de um sorriso
insolúvel
que desembarca no cais do mundo
" traço de um quase" que não sei.
a cidade flutua
e o mar
parado divide ruas como vestígios
eróticos
visgos de memória
no bronze
da história.
no exílio escrito o ritual
do instante clandestino
seu olhar mergulhado para dentro de si
como o impossível de abrir
figurante de si mesma
dentro do texto
sem concessões
atriz principal ( por detrás das cortinas)
atriz principal de incessantes masturbações
femininas
fiel a si mesma.
escrevo o que ela tenta entender
e me morro
num verso de açúcar e sal
"on the edge"
lobotomia existencial
desta neurose urbana
" on the edge: alternative futures. on the edge"
eu leio o verbo que corta hemisférios
cerebrais " searching"
espreguiçando neurônios e terminações
nervosas
morrendo a paz "I search"
quero abraçar a tristeza existencial
e dormir no limbo das alusões
literárias
derretendo ídolos de cera
estranha de mim mesma
e não há saída
desta pele que a poesia não expele
na tentativa de espremer o caldo
entre o cérebro e a carne
e a língua que não me traduz ou acompanha
"always on the edge" à margem do toque
"always on the edge" na borda de uma xícara
de chá, no sal
do meu drink, na ponta
dos pés " on the edge
of my sharpened pencil" na ponta
da minha caneta preta,
na plataforma úmida dos cílios no suicídio
das lágrimas
na ponta do meu cigarro no trago de
heróis em quadrinho ao alcance dos mitos
nos jardins de pedra e o corpo
se estica
do outro lado da praça,
tocando meu transe, um cristo
convida ao sexo
e atravessa a poesia
(nesta guerra semiológica rasa
eu me sinto uma rasura semântica)
não sou filha do vento
não me sustento
não me encontro na coerência
o desejo e a conivência
do silêncio crescem o ouvido
de tudo que não digo do impreciso
listo
dos abismos que me cercam
(e se a linguagem voasse à mesma velocidade teria
chegado mais perto)
hoje eu não dormirei
a faca escava a ausência e corta o céu
na polidez da tua demência semiótica
eu sou da lua pálida
esta deusa fálica
enquanto você finge
regar flores sem abrigo
e escreve gemidos
lambe tua língua
enquanto tu te vingas
de mim não terás o gosto
nem o veneno da tinta
te estanca no teu céu sutil anil
teu céu linguístico
que não me surgiu.


Shala Andirá

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