sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Consumação

Em cada boca
a seiva do meu paladar
e quando espadas
saltarem do seu olhar
(em busca)
atravessando um outro
serão meus órgãos
todos
consumidos num
sopro
pulsando sanguíneos
nas vagas unânimes
de suas veias finas.
Por que não há espaço na noite
onde eu desenho
este vazio.
Por que dentro é você
e o calor do frio.

Shala Andirá

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

No início era o Caos

é hora de dar algum contorno.
qual a relevancia do óbvio
se entorno:
a presença é
constância de bem querer:
solo?
e talvez
seja sempre
e só
isto:
uma matriz (transparente)
de equívocos
para quem
não é da vida: esquivo.
vai anjo meu
e se ficar
diga aos Santos
que o fogo pertence
a quem de direito o elegeu
a título de versos:
a Prometeu.
vaidade é invólucro de fita
se dentro dobro
acredita: coração é seda
que resguarda vida.
fibra diluída em delírio
do que existe
por apenas
um fio.

a lágrima azul da pele
escreve
suor de neve: ferve
que seja apenas um
até breve!


Shala Andirá


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Inverno.

Eu me confundo em doses de ontens nas vozes de um diálogo mudo. Eu me satirizo no momento em que te preciso. Lascivo imprevisto do qual eu me visto. Tu estimas-me presa a estigmas, enquanto duvidas entre guias e figas de uma cadência tesa: o amor sobre a mesa. Passeias com o punhal por sobre a pele indefesa e afundas no profundo dos órgãos, mundos mais mudos inóspitos. Eu ilesa, fiz da dor íntima prisioneira, e este sopro que se segue a cada batida surda do osso mais esterno, é a saudade que conservo, o mais frio e caro inverno.

Shala Andirá

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O Império dos tempos

Acaricio teus dragões com a língua múltipla das compreensões. Acesa como as incertezas nesta Babel de todas as naturezas. Clara como segredo escrito por sobre a água rutila. Retina do Sol na noite da tua pupila. Serei luz ainda que o dia se apague e a madrugada não amanheça. Solo, colo ou rastro de purpurina. Espelho leal que cintila ainda que tu não me reconheças. Não há de nós o que o tempo dos tempos esqueça.
Shala Andirá

Parto

te amo minúscula. entre a língua e o assoalho. como saliva e agasalho.
sempre pronta para ser amparo e parto. sempre pronta para arrumar a cama e revirar o quarto.


Imagens são só imagens
meu corpo pede passagem


Shala Andirá

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Estertor

Meu som sibila pelo solo do seu corpo. Escorre solto: bailarina líquida dançando ao vento revolto: amor caligrafando sopro.

Shala Andirá

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cientificismo no espelho _ O corpo no avesso

Ela fez a curva em torno dos 7 horizontes
em busca de
alguma ciência que a livrasse da tetraplegia
implícita nos mergulhos rasos depois de
explodir o fígado e o baço
entubando a liquidez do mundo pós- moderno.
Resolveu algumas incursões ao inferno
e viu Rimbaud negociando cadernos em troca de
míseros tumores
(talvez fossem apenas rumores).
Do céu, ela já sabia nascia a
necessidade da perfeita hipocrisia.
Onde vamos parar com tantas pústulas
nascidas do luar e mariposas povoando o altar.
Sagrada em sua cama
ela dormiu para nunca mais
acordar. Do rasgo no punho entrou estranha e sólida
em suas veias finas
ficou azul, estacionando o líquido
e o paladar.


Shala Andirá

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Do céu azul- Vista do asfalto.

Vindas do asfalto: notícias do Anjo Azul Cobalto: sob a inscrição da lápide sou mais
aproximada do espírito. na casca tudo se estranha
um pouco, digo na dose
de açúcar do jogo (a crueldade
é a face sublime
das asas da aurora do
seu ato: crime!). O tabuleiro físico reprime. não há nomes
catástrofes ou alucinação apocalípticas na anunciação das vítimas.
rimas limítrofes bóiam na ausência peculiar de estigmas. personas
confusas sobrevivem à própria hipocrisia nas esquinas dos paradigmas: um desfile de máscaras
concisas. à margem de qualquer paisagem
que exprima: metafísica. nada muda os órgãos de lugar.
tudo está
quieto aonde está. no desperdício dos terrenos
alagados: vomitando vidas sobre o pano de chão
de preceitos maniqueístas: gafanhotos
enxuga charcos ativistas espalhados por metro quadrado,
na anfetamina pulsante dos trópicos. enquanto no ápice
de cada ângulo um crânio de urânio
enriquecido de um milhão de prismas em colisão
aguarda: o trismo da visão: o cérebro caleisdoscópico gira:
na revelação da voz dos suicidas:
na consumação das vísceras: a colheita do núcleo humano na forma
elíptica do cataclisma.
(este carrega uma infinidade de mundos e submundos
1000 sóis explodindo muros, dízima periódica expandindo o escuro_
eu lhe daria mais um, se o tivesse, escondido sob os lençóis.
mas sou ausência: matéria prima. Só).
cato cavalos marinhos no mato para navegar céus de prata
escorrendo o canto verde das cigarras na relva colorida
de trapos e farpas. moro um pouco no silêncio azul dos abraços.
morro um pouco. depois passo. sigo o caminho vermelho do hálito
até a carne para transformar o beijo em baile. O balé: éter intrínseco,
corpo líquido do vicio, danço bem e pouco, em Braile tudo compilca –se
na rosa do sexo.
afinal é ou não é daí que nasce o coração: vento do plexo.
parece que domei o vício de catar obsessões: estalando nuvens
de tangerina literária entre os lábios e a linha melódica da navalha. há um texto
em branco enquanto nos cuspimos. enquanto
excessos exacerbam limbos
vomitando pardais e tico-ticos. há um tempo enquanto nos cumprimos
em terapias grupais. há um texto que corre atrás
da sombra das sobras humanas além dos poços virtuais. a vida se esvai
pelo ralo do computador ao lado.
vaidades degoladas duelam, por sobre cabeças, em busca
de uma fala. e o silêncio fica, excluído na vala. há um teto raso
onde afundo se afago.
por que há sempre um tempo abaixo onde contida em si.
num monólogo apertado. oxigenando o coração. sobrevive a solidão.
e lá se foi o monstro do café. lá se foram as heroínas e as vacinas.
minhas unhas se descascam na clareza do que embarga e desafina. filtros entupidos de larvas e estátuas de parafina.
confino-me embarcada no rastro. You might see me somewhere
between the rain. debaixo da língua caminhando imóvel
sobre os escombros da ponte de estantes, entre a cama e o assoalho. No mínimo,
no minúsculo ciclo do músculo entre o nada e o vazio do pulso.
_Aqui, terra de ventre renegado pelos filhos do legado, já não há domínios, há demônios domados na jaula dos olhos sem brilho: burocratas
batendo cartão e as teclas da lâmina banhadas de intenções e egoísmo_
um rastro de sangue estanque seca coagulando a velocidade do precipício.
_ Escorro meu vestido invisível sobre a ponta íngrime da sapatilha,
360 graus por sobre os edifícios e o lixo. por detrás das asas avisto nascendo, o céu sangue
deste imenso hospício.

Prefiro morrer atrás do depósito químico.

Shala Andirá