quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eu quero puxar da língua a saliva que me vinga do oásis que o Deus pinta para que agente não sinta.

Shala Andirá

Black eyed bed

With blinded eyes into the wide
nigth
I'll follow you, my
black wind, my only tide.
Tie me to your bird's tears
before
I die.
Dive me eternal
death
trough the needles head
sew me
to your black eyed bed.

Shala Andirá

Uma Cusparada- Escorro águas Intranquilas num beijo de vinte mil línguas. - Para Calígula.

(é que o mundo é um cão arfante
repousado na língua de um elefante.)

Na língua desta imensidão oscilante e carnívora
que é o chão, a falta de são.
Respiro saliva chovida:
uma Cusparada de vida. Escorro
águas Intranquilas num beijo de
vinte mil línguas e
navegam salgadas
o mar que me destila
das línguas a pupila.Onde mora o transe
preciso
para morrer num sorriso.
Está vida presumida, resumida,
conforto e comida.
A sua vida. Sua. Vida.
Que piada!
O grão de areia tem potência mais
exata batendo a cabeça larga contra o crânio
dentinário e sólido da enseada.
Sua vida:
mosca
emboscada no melado:
sorridente lambuzada estancada
vinte e quatro horas antes
da eterna dentada.
Espremida massa opaca, gosma
contra a calçada das divinas arcadas. _
Fios perecíveis embolados nos dedos
do céu. O senhor das marionetes
comanda o espetáculo em três
atos:
este sopro. Este sopro. Este sopro
sustentado pelas mãos de Deus.
_Quem você pensa que é!_
Eu tenho um sol no estômago, me
entorno da língua em líquidos
filamentos filarmônicos quando
o isqueiro da aurora se altiva, tenho a lua
bailando vaga sob a ponta
dos meus pés, e esta febre na barriga,
tenho um fio
terra fincado no umbigo
atravessado, e no cérebro
este mar bramindo ressacas ondas e
rugidos bardos.
Eu tenho o silêncio humano
dos leopardos
ritos perdidos em precipícios de
carne e vício.
Eu tenho o silêncio dos gritos.
Não o silêncio dos meus
gritos, mas de todos,
de todos! Dos teus
dos meus dos outros. Deste tudo
na solidão amontoada
nos edifícios, eu tenho a arma e aperto
o gatilho. Sim!!
Eu tenho o orgasmo
do egoísmo!! Este estampido.
Meus ouvidos assassinam velhos juízos, não,
não há espaço para o tédio, não há espaço
para remédios não há espaço
para obséquios. Amordacei
a paciência com todo o pano
da lucidez. Aceno com lenços úmidos
de demência para a insensatez.
Tenho a dor do esquartejamento
da existência,
tenho a boca escancarada
a corda acariciando suas luvas em torno
do pescoço
tenho a sufocação do sexo e do verbo,
este aperto,
o perfume dos esgotos a céu
aberto e estes ratos
roendo-me os nervos ao teto, deserto.
O chão queima os pés
do que é certo, a certeza
é país não descoberto, a incerteza este perto.
Eu tenho a boca escancarada,
escorro legiões,
raízes salivares lançadas
árvore contrária das víceras.
Eu escorro o que me vinga deste céu,
imensa boca que pinga goteja brinca,
conta gotas de imanência
sobre dosséis e oferendas.
Dócil é o fóssil!
Terror espalhado do
ócio
roído
contrário ao seu teor anódino
submisso.
O Amor. O Amor este ópio adolescente
se apossando de vontades inteligentes.
Eu quero o beijo do ódio
dos sentidos furiosos.
_ Abraça o que sente! Abraça ser gente...
a cima de Deus, a cima dos seus, a cima
dos católicos dos judeus dos ateus,
acima
do suposto eu...
abraça o breu oposto
abraça esta falta de rosto
abraça o gosto nascente do desgosto
abraça o não
o são
o vão
o vazio
o frio
abraça
o rio caudaloso que te escorre
pela boca
pelo sexo
pelo plexo cospe para cima
pra ver se o Deus morre.
Abraça o porre
abrangente do complexo
colidindo forças
e duvida, duvida dos sorrisos
complacentes, dos julgamentos da mente, duvida
do erro, duvida do espelho. O céu
tão azul pode ser intenso vermelho
e se chover suor escorrido das veias
sobre teus ossos não duvida,
escorre
está cascata que te exila, tua língua
é a única capaz de lamber destroços suicidas
e recriar existir, a cima,
deste nada que é a vida.

Shala Andirá

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Da Árvore das Almas

Ao pé do pé de almas, raízes expostas e pomos apodrecidos sobre o martírio virgem das palmas douradas. Ao pé de si a feroz introversão de um galgo custoso, mofa a agulha do trem luminoso. A cabeça furada escuta o professor de melancolias na calçada: a felicidade é um baile de máscaras reafirmadas, costura-te a cara, mais nada. _ Eu danço a valsa do avesso, nos espelhos de Versailles me esqueço, uma legião de escadas degolando becos na velocidade das escolhas, colho os frutos do pé, na ponta ritmada das asas, não perco a poda nem a muda, da escuta aguçada sorvo o sumo do canto das almas em primeva revoada, então enlevo o corpo de dentro ao campo de batalha.

Shala Andirá

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

À luz das velas

Minha alma entre a pele nua da lua amarela e a carne narcísica mergulhada na água da tela, entre o corpo dentro do copo e o corpo sobre a mesa, reflexo espalmado: espalhada e acesa. Meio tesa meio presa.
Só há um lugar onde a Guerra é válida, na parede interna da vala. _ Onde ela bebia velas amarelas distante do centro da sala. _ A saudade, este céu vazado à vontade, olhos de noite sobre meus ombros insones. Meio seca meio fome. Meio fogo meio chuva. Meio serva meio imperatriz meio fico meio fuga. Meio fisgo meio uva. Meio águia. Meio água. Meio fio meio calçada. Meio nua meio blusa. Uma verve um tanto confusa: lágrima descascada da pálpebra virgem escancarada em cascata e os cães sedentos ladrando a úmida emboscada das madrugadas. Em brasa.


Shala Andirá



Aprendiz no espelho - Ao Jaguadarte

Espalhamento anfibiótico
Experivençal revelatório inventorial de nua Tântrica
(Defensiva às ofensas do insatisfatório)
Ante-solo de ireverências: Amnion!!!_ Semen!!!
(A sinkar-se ao bom e ao meu)
Liso cognocível pre-conceito " sem"


Era um peito acelerado num cem freio de caminhões... era só uma menina perdiz... engolindo corações pela boca faminta da cicatriz.

Shala Andirá

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ato de Súplica - aos quatro ventos

Esta ausência sublime é nosso ato crime.
Fundo firme que em mim exprime o teu risco.
Teu visgo. Vício líquido tatuado em minha pele
de bicho. Resquício.

Reincidente concisa no teu peito liso,
em sigilo destilo o impreciso veneno convulsivo e me
deslizo em ritmos interrompidos no sussurro dos teus ritos.

Teu colo, precipício do meu grito,
me consome a fome
em teu nome
próprio,
me conduz ao ópio alucinógeno do teu
santo nobre. Me cobre
enquanto a humanidade dorme.

Me sorve ao corte íntimo da boca insone,
teu beijo infame, honra-me dama.
Nervos em chama
escamas perpetuadas
sob escarpas
e as escápulas saltadas
onde construístes a casa
de silenciosas asas.

Agora, enquanto a noite chora,
no vácuo indivisível vigora nossa hora.

Que a ardência da demora
seja senhora do gozo
inscrito na lembrança dos meus ossos
doloridos ao istmo do fosso.

Pelos dias escritos sob a abstinência
cega do teu olho,
que tua mão permaneça
vértice ilíaco marcado
a fogo.

Que tua voz seja ouvida
aos quatro ventos
Desígnio ungido
na forja dos quatro elementos.




Shala Andirá

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Deu vontade

Deu vontade de apagar as letras, embaçar as lentes. Deu vontade
de apagar as luzes. Deu vontade de esquecer que era gente. Deu
vontade de ser inconsciente inconsequente impertinente.
Deu vontade de ir de ficar de vir de voar de subir. Deu vontade de
fechar de abrir. Deu vontade de rir de voar de fugir. Deu vontade de sair de si.
Deu vontade de se engolir.
Deu vontade de
sentir.

Shala Andirá

Sede de nada

Afundei a cabeça e
bebi o mar de um só gole
revestindo águas com
mágoas salgadas

Bichos, bicos, nadadeiras
e está cachaça

A palavra enforcada, eu
mordendo o chão da
enseada

A morte trabalha entalhando
pedras e táboas
A vida se espalha com
suas navalhas redes e falhas

Quanta sede
Quanta sede

Bebi o mar de um só
gole, e o mergulho
é o que me engole

O medo se agarra
na borda. Na bóia.
Eu escorro roendo a corda.

Shala Andirá

Releitura

Meu tato nas páginas do
livro
Rugoso irrestrito

Meu rosto impreciso
cada página virada
acaricia noite alta esta
extrema falta
de riso

Onde o aperto na carne
o verbo já é desencarne
a ponta dos dedos sobre
as folhas
palmas inteiras
a encolha das escolhas
e as beiras

Vontades pela metade
no hálito verde desta tarde
que das páginas encarde
e seu ar
invade

Frestas não vislumbradas
um vendaval subindo escadas
até o ápice do
ato
estreitado
pelas quatro paredes
do quarto.

Mais uma página escapa.
A releitura é sempre farta.


Shala Andirá

Ode a Mercúrio

Roendo cordas eu me desfaço
do lago azul dos teus pequenos tragos
laços frágeis em que eu
nado

Já não me gasto. A palavra
lambe lambe lambe e
já não basta

O coração estala
dou de migalhas aos pombos numa lata
carrego nada sobre os ombros
sobrevivo
sob meus escombros
onde não há musa do Carnaval
nem tombos

Atrás da noite
dentro de um poste
releio o teto
inexistente da cidade
meu corpo quer tremer de febre
e não há termômetro que se baste

Mercúrio! Onde diabos está você.

Sim, eu andei tendo sonhos
sob palavras enfronhadas
e os lençóis bordados do
gozo esquizofrênico das madrugadas.

Shala Andirá

Ausência

Vejo a pedra sobre velhos ossos
Vejo a pedra sobre os olhos
e os leopardos dentro
da cabeça
salivando destroços

Ao íntimo gosto que lambe
minha terra
rio de sangue

Não há imagem rara sob o
céu da Baía
há o corpo saqueado
ausência parda de poesia

As pilhas estão gastas
o firmamento dividido em pastas
os loucos pisando este
chão de vidraças

Vou morrer mordendo livros
como as traças
o corpo comido, com
sorte, antes da morte, rapinado pelas águias

Último vôo destemido
distante das larvas.

Shala Andirá



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Gatografia

A eloquencia da minha poesia
se resume a esta garrafa, vazia.
A fala destoa. E Esta disritmia no
meu peito
Mia
o rascunho de uma pessoa.
Na elegia braba do Timo
(órgão por onde respiro)
os poros sagram
o destino.
Do alto da distimia sua
teatralidade vazia pia.
Genuíno é o que não se divisa
e ainda assim faz crer, eu só acredito
no que o olho não vê.
Furei meu órgão externo
Para ter visão eterna daquilo que
se sente e não cabe entender.
Meu olho cego não mente
O olho vê além da serpente
o gato ronronando
dentro da mente.

Shala Andirá

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Invólucro

A Medusa dorme sobre
escápulas dispostas,
de costas.
Ao murmúrio de um gemido
acorda firme e num sussurro fruído
se imposta.
A cabeça agora exposta
ao ninho de serpentes
devotas.
A boca
encosta.
A palavra sai aos jatos
gozando dos pecados
acanhados no mato
das encostas.
Arrisca o olho
ou de ti, eu me mato!
O sal é imortal
como o amor marginal
A vida não empata
A vida esporra e tchau.


Shala Andirá

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Há cura

Veneno regurgitado é antídoto que desmistifica pecados no olhar dos bravos.

Shala Andirá

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mundo mundo vasto imundo

Mundo mundo vasto imundo
eu não me chamo Raimundo.
Mundo mundo vasto imundo
o umbigo é nefasto e profundo.
Abotoa teus olhos
ao asfalto sem a pretensão austera do palco
enche tua cara de talco sem a pretensão acrobática do salto.
Pensa alto
com teu nariz de palhaço
constrói da regra um traço largo, sem cálculo
até o centro do carrossel do vento que te venta dentro das ventas.
Assopra o isento e sê momento.
Te entrega ao sopro do esquecimento
longe,
mais longe que qualquer ontem,
mais longe que qualquer longe de ante ontem,
mais longe que qualquer longe de antes de ante ontem de onde,
onde aos portos infinitos do dia,
aporta-se mais uma litania de lamento em melodia.
O silêncio
não precisa de palmas para chamar atenção dos deuses.
Sejam eles gregos, troianos ou gaulêses.

Shala Andirá

Trilogia: a trajetória de um amor brabo. Nascimento, morte e ressurreição.

Magra e ácida como os anjos mais extremos. Das trevas à luz.


Tirania

Há dias em que a fragilidade pia.
Solilóquio de uma só via
no martírio das criaturas frias.
E eu sinto a dor de todas as larvas anônimas
no andor de escombros que carregas sobre os ombros.
Renasço auras das sombras
donde se arremessa
minha cabeça espessa ao
efêmero extremo que padeça
apenas do mal a que me ofereça.
Posta, sobre a mesa.


Suicídio

Eu continuaria te sendo alpiste
se ao menos você me cuspisse.
Mas mastigas mastigas mastigas
não engoles nem bota fora
crescendo urtigas como se fossem esporas.
Sigo, com meu amor em riste
que longe é um lugar que nos insiste.
A coragem persiste e incide.
Não me ajoelho diante do teu regime,
vou ao sublime de cometer-me
qual crime.


Excitação - A memória da língua.

Díspares altares
cadela de lúgubres ares
inconscientes voláteis são teus mares.
Ateia-te ao fogo das cavernas
ao primevo instinto do que eras.
Bicho mulher dentre feras
entre tuas pernas
a língua impetuosa
do gemido silente das eras.
O gozo que te espera.


Shala Andirá




domingo, 5 de setembro de 2010

Acima do véu de Betelgeuse - Alcanças?

Eu voaria alto, bem alto até o impensável
se o cérebro de Deus tivesse alcançado os meus pés (a teus?).
Descalça, eu desceria se houvesse pecado.
Eu puxaria o cordão umbilical até inverter o lado,
se ao menos houvesse um centro, dentro.
Eu esqueceria as aves as flores os amores e as claves.
Eu apagaria o som os sinos o sal as luzes e estas saudades seculares.
Engoliria o vão o vento e as ondas de vontades voláteis mascando mudo,
o mundo e surdo qualquer assunto.
Jogaria para cima o não o sim e esse talvez em mim.
Mas gente, é condição sem fim.
Infinitamente faminta. Do fino alfinete que prega
as pregas da alma e renega. Existir é apenas ser:
entrega. (?). Depois morrer alto,
no imenso que se aposse do teu próprio salto.

Shala Andirá

sábado, 4 de setembro de 2010

Cercado

Talvez eu traduza com mãos firmes a rispidez do meu timbre.
Talvez seja a fibra fímbria de um vidro que vibra.
Víbora tíbia de ímpia furtiva. Carimbo timbrado na lucidez do brado que cavo com as unhas do arado.
Este amor farpado. Arame que me cerca, castrado.
E ainda, intacto.

Shala Andirá

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Soma

Eu sei desta dor de cabeça espremida
entre a mão e a cama, digo da fama,
digo de um pacto ausente com o drama.
Eu sei deste excesso delirante e líquido que me jorra
quente inalcançável insaciável. Dama.
Digo da falta de carência,
do respeito à demência, dos tetos a prensa
onde a poesia me pensa. Suspensa.
Eu sei da rouquidão dos trilhos,
à pretensão mundana dos pedaços,
sei do aço das penas que não trago,
do tato liso dos ladrilhos e dos partos
em cada traço. Da traça lenta
digerindo meus tecidos passo a passo.
Eu sei da minha pele cinza intenso esfarelada
nos cinzeiros do vento,
do meu timbre vermelho denso,
das cores da infância nos meus joelhos tensos.
Eu sei da paralisia que buzina ao dobrar uma esquina,
sei do olhar perdido das latrinas,
dos nós em minhas crinas.
Eu sei do meu corpo ainda menina.
Eu sei a voz das asas se debatendo
de encontro a rede da janela, sei das torturas
internas e os ecos inócuos de suas cavernas.

Da sombra do vidro nos meus olhos pintados
reconheço meu coma.
O que eu não sei, é o resultado da soma
de mim, que não sei
falar meu próprio idioma.

Shala Andirá


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Semente

(Não há paciência.)

Da terra nasce veemente plantada
pelo pólen das serpentes.

Mais nada.


Shala Andirá

Epitáfio

(profanação) A voracidade jaz na calma.

É tão óbvio, que trago
aceso o último toco
do meu cigarro
até queimar o lábio
para não morrer
a memória do faro
fálico nas cinzas
do meu último escárnio.

Shala Andirá

Garrote

Ácido istmo de sangue que ainda me incendeia. Íntimo vão em minhas veias. Contumaz e insano quanto um chão de areia.

Shala Andirá