sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Soma

Eu sei desta dor de cabeça espremida
entre a mão e a cama, digo da fama,
digo de um pacto ausente com o drama.
Eu sei deste excesso delirante e líquido que me jorra
quente inalcançável insaciável. Dama.
Digo da falta de carência,
do respeito à demência, dos tetos a prensa
onde a poesia me pensa. Suspensa.
Eu sei da rouquidão dos trilhos,
à pretensão mundana dos pedaços,
sei do aço das penas que não trago,
do tato liso dos ladrilhos e dos partos
em cada traço. Da traça lenta
digerindo meus tecidos passo a passo.
Eu sei da minha pele cinza intenso esfarelada
nos cinzeiros do vento,
do meu timbre vermelho denso,
das cores da infância nos meus joelhos tensos.
Eu sei da paralisia que buzina ao dobrar uma esquina,
sei do olhar perdido das latrinas,
dos nós em minhas crinas.
Eu sei do meu corpo ainda menina.
Eu sei a voz das asas se debatendo
de encontro a rede da janela, sei das torturas
internas e os ecos inócuos de suas cavernas.

Da sombra do vidro nos meus olhos pintados
reconheço meu coma.
O que eu não sei, é o resultado da soma
de mim, que não sei
falar meu próprio idioma.

Shala Andirá


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